domingo, 4 de novembro de 2018

nós e eles

pensávamos que eles eram tolos, que a visão de mundo deles era a errada e a nossa, a certa. estávamos convictos de que eles não entendiam de nada e que nós tínhamos razão por pura e simples ideia de que conhecíamos bem o assunto porque estávamos envolvidos nele há bem mais tempo, que havíamos lido livros, ponderado pesquisas sérias e conhecíamos melhor a história. acreditávamos que éramos capazes de enxergar melhor o que estava por vir e que eles, os que não acreditam no amor e na humanidade, nas formas diferentes de encarar a vida, os que considerávamos desalmados, acreditávamos que estes estivessem errados. mas também nos parecia óbvio e indubitável que eles se arrependeriam depois de perceberem o erro que estavam cometendo. ao menos a maioria deles nos procuraria pra dizer que haviam sido enganados, ou que não imaginavam que a realidade seria a que nós havíamos avisado. estávamos prontos pra cobrar o aviso prévio ou pra consolá-los e afirmar que estávamos no mesmo barco. mas a razão realmente não era nossa e havíamos nos enganado o tempo todo. boa parte disso tudo não aconteceu e não acontecerá. não houve, não há e não haverá arrependimento. mas ao menos ainda temos a ironia.

segunda-feira, 3 de setembro de 2018


o maior desafio do ser humano é lidar com o abstrato e o subjetivo. a dependência do referencial nos sentidos e a incapacidade de conviver com o etéreo, a imaginação e a forma de compreender o mundo a partir do olhar do outro são motivos dos sofrimentos da humanidade. fazemos guerras por não sabermos perceber as necessidades, interesses, desejos e angústias do outro. nada que seja concreto poderá angustiar e causar o mesmo sofrimento do que algo abstrato. a dificuldade é tão grande que há quem procure substituir conceito por exemplo e sensações por algo tátil. basta a necessidade de imaginar ou sentir pra que comecem as broncas. a fome, a ignorância em relação aos bens culturais e patrimônios imateriais do outro acabam motivando a desumanidade. a religiosidade alheia, ou a ausência dela, faz com que o indivíduo esqueça dos seus próprios dogmas. E nessa história toda, não faltam pessoas com capacidade de interpretar o mundo bem limitada que acaba acreditando que a solução é o concreto, jogando o medo ao colo dos diferentes.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

o silêncio é prece
mas parece mais um sinal de que daqui a pouco o mundo vai acabar
ele costuma nos fazer encolher, comprimindo o peito e a cabeça, empurrando pra baixo
parece que há uma prece pra encolher a gente
quem dera um sussurro viesse como um sopro dentro de um balão
quem dera uma gargalhada

segunda-feira, 21 de maio de 2018

donos de si

à lona foi o lutador
com os dentes engolidos
tragado pela força do opositor

- a dura tarefa de tentar o impossível

ao chão foi o carrasco
diante de tanta força dos condenados juntos
e decapitado foi o dono do machado

o vento no rosto
a roupa esvoaçante
e os pés descalços
- foram buscar clemência na marra

sexta-feira, 18 de maio de 2018

gratidão

parêntese para agradecimentos
gosto de ser lido, especialmente quando transmito mensagens cifradas. também gosto de agradecer por tudo que recebo. assim sendo, queria agradecer imensamente aos leitores por estimularem a que eu atualize este espaço. há uma alegria em mim a cada vez que acesso o analytics e vejo o crescimento o no meu número de leitores.
um agradecimento especial quero mandar aos leitores de jaguarão, na fronteira como o meu amado uruguay. naquela simpática e amável cidade, descobri o maior índice de leitores per capta. só nos últimos 20 dias, 17 novos acessos foram registrados, o que não é pouco pra um blog sobre arte transgressora que não faz publicidade alguma.
o inusitado de tudo isso é que não tenho amigos jaguarenses, além do meu doce fruto fronteiriço, o que me deixa ainda mais orgulhoso.
agradecimento feito, parêntese fechado e o convite a que sigam visitando minhas postagens. sintam-se à vontade pra comentar.

sexta-feira, 27 de abril de 2018

autobiografia de um povo massacrado por um crápula

a gente escolhe passar humilhação
porque acredita que um dia vai melhorar
um dia o algoz se transformará no salvador
um dia o tirano virará um estadista
e deixará de ser prisão pra se tornar liberdade
mas o fato é que o algoz continuará matando
o tirano continuará cada vez mais tirano
e a prisão vai se tornando masmorra
mas prenderam a gente também em pensamento
ao ponto de a gente escolher passar humilhação
não nasci ontem
nem durmo de touca
e sei bem esperar o peixe morder a isca
quando navego

enquanto navego na web
vou jogando syberminhocas
e os baiacus que registram visita
julgando-se tubarões
acabarão
traídos pela própria ganância
(o peixe morre pela boca)

sou muito maior que esses peixes
mesmo que se pensem cardumes
pois beira mar não me falta
e quem me cuida não dorme

baiacu, chama os teus
que sei extrair teu veneno
e te janto sem precisar semana santa

robocop psicólogo


parafusos caídos
cabeça totalmente frouxa
vai perdendo a sanidade
vai perdendo a vitalidade
vai perdendo a noção das coisas

vai ganhando sensatez
vai virando adulto
vai aprendendo
afrouxando as amarras
e apartando parafusos alheios
foi numa noite quente como a de hoje que conheci gilmar e de pronto o convidei pra morar comigo. de pronto simpatizei com ele, que sentou no braço do sofá e caminhou sobre a minha mão, depois voou. leitores perguntarão por que eu teria dado esse nome a um besouro e eu responderei que gosto desse nome, mas principalmente porque meu amigo tinha cara de gilmar. e digo tinha porque ele resolveu procurar outro lugar mais iluminado. tive um certo receio que alguma visita maltratasse meu amiguinho de corpo robusto e zumbido em lá menor. gilmar era elegante, com seu jeito de me dizer que voltaria, mas como é o costume aqui em casa, é mais um que não volta. talvez eu precise rever a minha forma de agir. talvez eu não esteja sendo hospitaleiro suficiente ou esteja sendo demais. o fato é que o besouro resolveu bater as asas, assim como já o fizera a mariposa ano passado. depois dela, ainda tive a tragédia de ver a lagartixa poliana afogada na espuma dentro do box do banheiro. ainda teve a formiga que teve sua passagem talvez por causas naturais. mas o fato é que meus companheirinhos foram saindo daqui de casa das mais variadas formas: uma enterrada no xaxim da samambaia e a outra no vaso da flor de maio; uma bateu as asas e sumiu pela janela do quarto e o outro pela sacada.
só me restaram as traças.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

atordoante

circula por aí a notícia de que o cara aquele fez aquilo com aquele outro. dizem que tem testemunhas e tudo, mas até agora só se escuta falar que não se entendem. o estranho é que parece não haver um caminho pra se chegar ao ponto, à verdade, ao centro do caso ou sequer à existência materializada do caso. já foi dito que aquilo estava dentro das normas e ouvido que as infringia. houve quem tivesse certeza de que o cara era culpado e quem duvidasse da existência daquilo. porém já é sabido que só as palavras pronunciadas dizendo que aquele cara teria feito aquilo com o outro seria um fato. alguns ficaram amedrontados, outros confusos, poucos com total convicção, ainda que não conseguissem comprovar essa absoluta certeza. no final das contas, ou no início do problema, decidiram que o outro faria aquilo naquele cara. o outro sentiu-se poderoso e não parou mais, fazendo aquilo com outros e outros, até que se decidisse que um terceiro deveria intervir e fazer o outro parar de fazer aquilo com outros. no fim, já eram vários e vários fazendo aquilo com os demais.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

o amor é um clichê


quero enlouquecer de vez
e me perder em ti
teu cheiro de flor
batom vermelho ruivo
encarnado no lábio teu

minha índia da ponte mauá
meu doce fruto lejano

quero teu chegar de mansinho
ocupando teu espaço
teu veludo macio da voz
- demência justificada
a unha, a carne, o sangue
e a tua percepção

minha gata da madrugada
que me veio trazer a luz
que me veio trazer à luz

terça-feira, 10 de abril de 2018

angústia da dúvida (ou o caso do boné)

até hoje não consigo saber o que é pior: ser roubado sem saber ou sentir-se roubado sem ter sido. o fato é que as duas coisas são muito ruins. tudo isso me vem em mente pela história que passo a contar.
aconteceu há bastante tempo, quando comecei a carreira na escola pública.
um aluno que sentava próximo à minha mesa tinha um boné que havia ganho da avó que recém falecera. era algo de valor inestimável pro guri. certa feita, ele chegou triste na aula, sem o boné. sem que eu perguntasse, ele comentou que havia perdido, mas não conseguia imaginar como. só lembrava de ter usado a última vez num jogo de futebol, onde era goleiro do time. conversei com ele pra acalmar, falando que esses coisas acontecem, que a avó estava no coração dele e isso ele jamais perderia. o guri abriu um sorriso, demonstrando que estava reconfortado. passaram-se algumas semanas e eu vi com os meus próprios olhos o filho de um vizinho usando o mesmo boné. não era um parecido, era o mesmo, com os mesmos fiapinhos de linha do bordado soltos. através de amigos, soube que o boné não foi encontrado pelo meu vizinho, que sabia da história toda, mas que havia sido tirado de dentro da bolsa do meu aluno. pensei em contar toda história, mas o garoto estava tão bem que julguei melhor não falar nada, pois também sabia da natureza violenta dos pais do meu vizinho e que isso poderia gerar um problema bem maior. até hoje sinto a angústia do guri que ficou sem a última lembrança física da avó.
isso tudo me pôs a pensar como seria se fosse o oposto: se ele realmente tivesse perdido o boné e o outro que encontrou não soubesse da história toda. imagino que provavelmente o meu aluno não teria sentido a mesma tristeza, da mesma forma que não teria palavra minha que o fizesse sentir melhor.
queria muito que os leitores me ajudassem a entender isso melhor. de repente, contando algo semelhante que possa ter vivido nos comentários.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

humanidade fabular

a lebre apressada e metida perdeu pra tartaruga. a formiga e a cigarra descobriram que tudo pode ser útil numa coletividade, em algumas versões. a raposa e a cegonha quase se mataram de fome. o sapo aprendeu tarde demais que não deveria confiar no escorpião. a outra formiga aprendeu a não apostar com o elefante. o fazendeiro e o filho não aprenderam a interpretar. o menino foi apanhado pelo lobo. fim
moral da história: só o ser humano é capaz de fazer merda e não aprender

domingo, 8 de abril de 2018

ficção

última parte do sonho, lembrada só na noite seguinte
esperando uma pessoa que chegaria de longe num ônibus pra me encontrar. uma cobra desce do ônibus antes da pessoa e me dá um bote, mordendo exatamente no peito do meu pé. senti latejar na hora. tombei na hora. despertei com fortes dores no pé, que inchava muito rápido. só conseguia pensar que a visita ficaria assustada e daria meia volta. tentei gritar, mas a voz estava enrolada demais.
acordei sentindo um formigamento no pé e sozinho
sonho
dentro de um poço com uma água muito mal cheirosa e barrenta, preciso encontrar uma pedra específica. mergulho cada vez mais fundo e me sujo. aquele cheiro e aquele aspecto putrefactos vão entranhando em mim. encontro uma pedra e vou examinar. não tenho como sair do lugar antes de encontrar exatamente o que procuro, então é impossível levar pra lavar e acabo tentando limpar com cuspe. depois de algumas esfregadas, a certeza de ainda não ter encontrado. mergulho mais fundo, um punhado de pedregulhos eu vou descartando porque já no peso e no formato dá pra perceber que ainda não foi desta vez. sigo a busca até cansar e desistir. acostumo ao cheiro de esgoto e começo a me sentir confortável com aquele líquido nojento que me envolve até a cintura e que vai subindo lentamente. ouço uma voz pedindo que eu saísse e que aquele não era o meu lugar.
desperto
durmo novamente
agora num grupo de velhos amigos, todos contando das vidas felizes que têm. vibro a cada história. até que um deles me inclui numa história que eu sei que não fazia parte, que eu estava morando longe e não teria como participar. mas entro na mentira, porque afinal, não fosse isso eu não teria o que contar. daí fico confirmando: sim, eu tava junto, inclusive fui eu quem teve a ideia tal. e percebo que às vezes preciso participar da mentira inventada, ainda que a cabeça fique questionando quem seria que estava no meu lugar. finjo que isso não importa e volto a prestar atenção agora num casal de amigos que conta como é linda a história deles desde quando adotaram uma gatinha.

desperto assustado
ainda me sentindo sujo
e imaginando que as pessoas vão perceber meu cheiro a esgoto
mas preciso tomar um banho e ligar pra aquele amigo

quarta-feira, 4 de abril de 2018

rupestre

desenho na parede a lápis. cada linha traçada é um elefante feito de chumbo nas costas. e é estranho como essas estátuas estão bem acomodadas a ponto de não saírem. ao mesmo tempo. a sensação de que tudo é nas minhas costas acaba me deixando confortável. tanto que silencio. e enquanto percebo cada traço. também noto que há algo escondido. algo feito pelas minhas costas (aquele sonho com as cobras...). e lá vem mais um elefante de chumbo. aquela dispensa do trabalho que me fez ter que procurar outro.
- só pode ser isso!
e a sensação de que cada elefante foi ali colocado por alguém que se fez de bonzinho. volto a fixar a atenção no desenho. uma imagem aleatória que esconde um segredo (como se houvesse um sinal escondido dizendo "cuidado!"). parece o símbolo olímpico, mas são apenas dois aros. mais um elefante de chumbo.
paraliso
engasgo
percebo que além do peso, os elefantes de chumbo também intoxicam. mas mantenho a esperança de que um dia eu consiga me livrar de tudo isso. que eu consiga cobrir completamente aquele desenho nefasto. que os elefantes me deixem com o corpo mais forte. que eu consiga me curar do chumbo

terça-feira, 20 de março de 2018

a língua é laica

a oração do sujeito é um tanto indefinida. parece que o sujeito pede uma coisa, mas também dá a impressão de que precisa de outra. talvez seja as duas ao mesmo tempo, ou nenhuma. é um desejo direto e uma necessidade indireta, embora o jogo de palavras seja confuso. mas o sujeito tá ali, necessitando de algo que o complemente que lhe atribua um sentido, até que ele se perceba objeto

segunda-feira, 19 de março de 2018

o primeiro voo

ladeira a cima toquei o vento e ele resolveu ajudar. foi aí que aprendi a voar, não como os porcos floydianos, nem como os pássaros do clichê, mas como personagens do cinema hollywoodiano, como se fios invisíveis me suspendessem. então consegui enxergar o que não estava ao meu alcance: o topo, a vegetação, a ladeira que tem do outro lado, mais um punhado de visões poéticas. era como se sobrevoasse um poema do Alencar ou uma obra renascentista. pedi pra pousar no planalto e me largaram delicadamente no cume da tua cama.

quarta-feira, 14 de março de 2018

memórias

tava desocupando potes na cozinha e criando diversas histórias na minha imaginação. todas elas sobre alguém que esquecia alguma palavra. uma vez um cara estava estudando espanhol e não lembrava o nome de uma folhagem usada pra fazer salada verde no seu idioma materno. ficou por horas conversando com amigos, tentando explicar como era a planta pra ver se alguém lembrava, até que lhe saiu "lechuga". dois dias depois, passou numa feira onde estava escrito num tabuleiro: "não aperte as frutas" e lembrou o nome da folhagem. uma estudante de direito teve algo semelhante após a leitura da legislação específica de uma determinada área e acabou esquecendo do nome do vidro frontal do carro. como não havia meios de pesquisa instantânea na época, a estudante não conseguiu completar a linha do raciocínio de tanto esforço mental pra encontrar a palavra. passaram semanas e ela preparava o almoço. lhe veio à mente a palavra "taciturno", que havia lido num romance clássico, ou num poema do cânone e imaginou que seria a palavra que estava sendo esquecida por outra pessoa em algum lugar. até comigo aconteceu um esquecimento. ao lavar a louça, imaginava uma narrativa em que alguém trabalhava numa funerária. acabei esquecendo o nome do processo em que se tampa todos os orifícios de um corpo para ajudar a não vazar as secreções decorrentes da decomposição. mas o interessante é que ao esquecer das palavras, as pessoas eram obrigadas a construir os conceitos e pensar na utilidade das coisas, assim como nos seus formatos e características. percebi que as perdas de memória podem ser úteis. mas nessa história toda, ficou um pote cheio de inúteis listas de compras

quarta-feira, 7 de março de 2018

certa feita, pela primeira e única vez na minha vida, disse pra alguém que eu costumo sempre mentir. desde então, minha vida virou problema de lógica: se eu menti naquela ocasião, então, significa que eu sempre digo a verdade, logo, haveria eu mentido uma vez; caso eu tivesse dito a verdade, que eu realmente costumo sempre mentir, o problema seria semelhante, pois eu costumaria mentir, mas na ocasião em que falei que costumo sempre mentir, eu falei a verdade. mas a lógica está aí para ser desafiada, embora ela sempre derrote o desafiante

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

o sonho marmota

as manchas escorrendo no tapete estendido pra secar
queimaduras de tabaco
acendendo na ponta
trago no peito uma alegria
uma alegria sem fim
os dedos ardendo
e de repente uma gargalhada
e quando vê já passou um terço
da décima sexta hora do dia
e uma explosão rompe a ordem
cores pra todo lado, músicas multidirecionais num volume esmagador
a imagem de um ser mitológico dentro da mancha no tapete tremulando no mastro do banco
a gargalhada
a música explodindo
os dedos no copo de gelo
o leite condensado
o pau duro
a água
o sono
o sonho
as manchas escorrendo no tapete estendido pra secar
queimaduras de tabaco
acendendo na ponta
trago no peito uma alegria
uma alegria sem fim
os dedos ardendo
e de repente
desperto

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

uma tragédia
desfigurados, os olhos da moça
avermelhados os traços do moço
o choro, a gargalhada nervosa
tudo passa pela cabeça numa hora dessas
parece que a qualquer momento vai acontecer novamente
mais choro, mais nervosismo
 vai acontecer
 talvez não
 tenho certeza que vai, só não sei por que demora
e os olhos dela começam a se encher de fúria
enquanto o moço empalidece
de repente, desaba tudo
e o que antes era um castelo fica com aspecto de masmorra

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

no ritmo do algoritmo

este é o caminho que temos, cheio de possibilidades, mas com as setas indicando sempre um caminho pro abismo

lamento em sol menor

jamais lutei no social
sempre fui covarde pras batalhas externas
e um tanto descrente
- e os conflitos internos sempre foram mais urgentes

[como cozinhar sem gás?
[que acorde encaixa melhor aqui?
[qual chá tomar pra gastrite?
[será que eu não tô sendo idiota com ela?
[todo mundo aqui quer a mesma coisa?
[são confiáveis essas pessoas?
[aperto na ponta ou uso filtro?

tudo sempre foi ocupando o meu tempo
e as respostas sempre vieram da pior maneira
- come cru
- tuas músicas não fazem sentido algum, esquece esses acordes
- foda-se a gastrite, toma café
- sempre
- não; uns querem o poder, outros pensam que é festa e alguns estão tão iludidos quanto tu
- gargalhadas
- filtro

e a cada luta externa não enfrentada, outras dez internas se instalavam, algumas com respostas induzidas

[mutantes ou novos baianos? boogarins ou tagore?
[capitu traiu mesmo bentinho?
[brasileiro ou uruguaio?
[bento gonçalves ou duque de caxias? ou nenhuma das opções?
[montevidéu ou recife?
[teoria da conspiração ou estudar história?
[morrer de tédio ou me tornar matador de passarinhos, como o skylab?
[miss lexotan 6mg ou lucifernandis?
[insegurança ou insensatez?

mas tudo foi me matando aos poucos


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