quarta-feira, 22 de novembro de 2017

tudo é sempre outra coisa

juro que vim aqui escrever um poema, mas só me saem coisas estranhas, sem sentido. acho que tá na hora de parar de fazer sentido, se é que alguma vez eu fiz. talvez alguém da academia conseguisse remexer nas coisas e encontrar algo que o valha, mas tenho certeza de que nada daqui desperta interesse. é como a história da minha miga formiguinha, que encontrei encolhida num canto, depois de fazermos amizade e eu sonhar que ela havia se tornado gigante. é como o conto da alice na páscoa. mas o fato é que eu queria muito escrever um poema, daqueles tão enigmáticos, cheios de significados, que todo ano sai uma tese apontando uma nova forma do que diz ali. em vez disso, saem repetições, aliterações surradas, joguinhos inúteis de palavra e significados minguados. no máximo, um clichê de uma declaração de paixão travestida de historinha de gato sonhador, ou um passeio de automóveis. mas nada de poético. talvez devesse começar a tentar algo mais concreto, como um viva a vaia, ou algo mais fabricado, numa lata de sopa fotografada. quem sabe eu comece a me apropriar de coisas alheias e invente algumas colagens. pode ser que assim eu consiga ser poético, embora não inventivo, como a poesia é. aliás, a poesia não está morta, como os esforçados fabricantes de livros gostam de fazer parecer.  a poesia tá no auge, mas fora das palavras escritas. também é possível que a poesia esteja no espontâneo, na escrita sem freio e sem revisão, sem aquele planejamento e aquelas maluquices de ficar anos trocando letra por letra num caderno rabiscado. se ela tá no léxico, é bem provável que seja assim, na falta de talento, daí que eu tenho alguma chance, ou no que não é. mário quintana escreveu que tudo é sempre outra coisa, então, quem sabe, chegou a hora de fazer outra coisa.

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