quinta-feira, 20 de abril de 2017

e de repente veio a frente fria

e de repente veio a frente fria afiar suas garras no meu apartamento. chegou acompanhada de uma garoa fininha e gelada, anunciando que é a época de se foder na vida, de olhar pra baixo e se enrolar nos cobertores. é a época de pensar que o cara que passava bêbado do outro lado da janela agora estava por aí. aquele amigo ocasional, que pedia pra despejar uns goles de cerveja numa garrafinha de água mineral, provavelmente estava mijando nas próprias calças pra aquecer o corpo por alguns instantes. é a época de comemorar porra nenhuma, a não ser a ausência do suor. então veio a frente fria pra mostrar o que é possível, sim, se desfazer daquela vontade de sair na rua pra dar aquela caminhada noturna no clima agradável. veio pra foder com a vida dos solitários, dos mendigos e de quem não tem nenhum tipo de aquecimento em casa. com ela, chegaram as músicas melancólicas, o desapontamento de um copo de água morna e uma vontade enorme de acender uma fogueira no meio da sala. aquela vontade de sentar no banco do parque ao sentir-se como um pato morto e secar-se no sol gelado. o ateísmo acompanha a frente fria, assim como a incredulidade na humanidade. e de repente veio a frente fria

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