segunda-feira, 27 de março de 2017

a distopia (ou a desesperança)

era a era de balizar o basilar, mas sem o registro régio, ainda que parecesse pleonástico. mas tá, não vou encher esse texto de frases de efeito ou aliterações imprestáveis, só pra deixar ele bonitinho. trato do período em que precisávamos botar as tremas na linguística, mas sem precisar das atas. nada de conformidades e regimentalismos fanáticos. tudo precisava ser rediscutido. mas a língua padrão era insuficiente, então, passamos a discutir tudo através da estética do curto e grosso. chegamos a um consenso: estávamos fodidos e a merda era tão grande que precisávamos falar muito tempo e desabafar bastante, ainda que fossem coisas sem sentido aparente. estávamos fodidos, porque a arte popularizada vinha empacotada, cheia de metáforas desnecessárias, ou através de clichês, que mais pareciam chicletes mascados. a merda era tão grande porque aqueles que pretendiam mudar as coisas gostavam mais do próprio discurso do que o que ele significava. costumavam citar grandes pensadores, mas na hora de botar a citação em ação, tudo era "na prática, a teoria é outra". uma bosta! cada um queria receber o seu quinhão de amor, mas os mesmos cada um não queriam ser os doadores desse amor. queríamos que só os outros fossem honestos. então, discutimos e chegamos ao consenso, como falei. todos concordaram que do jeito que estava não dava mais pra ficar. decidimos mudar tudo. estávamos todos de acordo que deveria ocorrer a mudança. fizemos virar lei, que jamais foi cumprida.

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