sábado, 4 de fevereiro de 2017

eu e os outros

a única vez em que tive meu próprio rosto foi quando nasci. ao entrar em contato com a equipe de obstetrícia, fui adquirindo outras formas. depois, meus pais, os outros bebês da maternidade, as outras crianças na rua, os irmãos. veio a escola e os colegas me doaram um pouco dos seus traços, assim como receberam alguns meus. na faculdade, a mesma coisa. no trabalho, troquei de características a cada emprego que passava, com cada colega e com cada pessoa que atendia. veio o retorno à sala de aula e, com ela, o intercâmbio facial com outras pessoas. fui adquirindo e doando detalhes, expressões, belezas e feiuras com cada um com quem mantive contato e, aos poucos, minha cara foi se tornando a soma de todas as caras que percebi na vida.

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